♥Antes da chegada a Manú♥

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Eu acho que mesmo antes de me entender como gente, eu já queria ser mãe, eu não brincava de boneca, eu brincava de neném rs, mesmo quando a brincadeira era com a Barbie, colocava uma barriguinha nela e usava como bebê um bonequinho desses que se costuma usar para decorar bolos de aniversario em forma de campo de futebol.
Eu sonhava com o dia que teria meu próprio bebê, alias agora eu acho que é por isso que eu também amo a área da saúde, queria ser obstetra, queria ser da área que traz mais alegrias que tristezas dentro do hospital, enfim, quando conheci meu marido esse desejo de ser mãe estava meio adormecido (por percalços da vida que não merecem crédito) e sempre que o assunto eram filhos eu desconversava, mas bastava ver um bebê, em qualquer lugar, metro, supermercado ou na rua, eu me derretia toda, meu marido sempre falava que meus olhos brilhavam, e essa de desconversar mudou logo, um dia a gente estava falando dos preparativos pro casamento e eu deixei escapar que queria casar gravida, eu achava lindo (achava, não acho mais, hoje sei que as coisas tem que ter uma ordem na vida e ser mãe, engravidar tem que ter a hora certa, os filhos merecem isso), mas pra minha surpresa meu marido não achou loucura, então esse assunto acabou voltando outras vezes, resolvemos que eu podia ir ao médico ver se estava tudo ok e assim que estivéssemos na nossa casa poderíamos deixar acontecer.
Consulta marcada, lá fui eu, nunca tinha passado com aquela médica, durante a consulta expliquei que eu estava pra casar e que logo depois pretendia engravidar, ela não falou muito e me pediu vários exames.
Exames feitos eu como sempre curiosa, abri antes da consulta (todo mundo já deve ter feito isso rs), não entendi quase nada e fui pesquisar na internet, era alguma coisa relacionada  a células pré-cancerígenas, me assustei um monte, meu marido (noivo), me disse pra esperar e ver o que a médica ia dizer, poderia não ser nada, mas confesso que ja cheguei pra consulta com a garganta presa.
Na sala da médica fiquei sentada imóvel esperando ela ler os exames, e ela não fez rodeios.
- Olha Aline os exames estão mostrando uma alteração, é grave, tem cura mas você precisa tratar rápido, É CÂNCER, agora você vai procurar seu convênio e pedir umas autorizações pra cirurgia.
Ela não me explicou nada, eu já estava chorando essa hora, e ela falando como quem passa uma receita de bolo, pega as guias, volta aqui, a gente tira o seu colo e ta tudo certo.
Eu peguei os exames desci as escadas e passei pela recepção igual a um raio, me desmanchando em lagrimas.
O consultório fica ao lado de uma estação de metro, assim que eu sai liguei pro Joander (marido), mas eu chorava tanto que nem conseguia falar, lembro que ele falou, desce na próxima estação e me espera.
Foi o que eu fiz, mas enquanto esperava liguei pra minha irmã mais nova Zan, (tenho 4 irmãs e 1 irmãozinho, sou a do meio e até então a única que não tinha filhos) tentei me controlar, mas a minha vontade era gritar, contei pra ela que a médica tinha me dito que eu estava com câncer, que era sério e que eu estava com muito medo, quando ela começou a falar eu ja vi que ela também estava com a voz embargada, me pediu pra ficar calma, que ia dar tudo certo e desligou. Depois ela me contou que começou a passar mal e saiu mais cedo do trabalho, queria que encontrar, ela diz que achou que eu ia pular na linha do metro, tamanho era o meu desespero :(
Meu marido chegou, e eu já chorava mais do que antes, se é que isso era possível, ele me abraçou, disse que ia dar tudo certo, fomos pra casa chorando.
Eu não trabalhei aquele dia, passei dia todo no quarto chorando, quando nós conseguimos conversar, eu contei o que a médica tinha me dito e ele disse que a gente ia o mais rápido possível procurar o convenio pra dar prosseguimento no tratamento, assim foi, porém quando eu procurei o convenio fui informada que aquela médica não tinha autorização para esse procedimento, o convenio tinha uma clinica especializada no atendimento a Mulher e eu fui encaminhada pra lá, passei com outros dois médicos, fiz mais alguns exames eles me explicaram que o procedimento era relativamente simples, que a cirurgia não era invasiva, no mesmo dia eu iria pra casa e que a recuperação também era tranquila, cirurgia marcada, veio mais uma paranóia, a operação ia ser 4 dias depois do meu casamento, babau lua de mel....
E assim foi, casei no dia 17 de Outubro (leia essa história no post "assim começou"...), curtimos juntos os quatro dias seguintes e no dia anterior a operação eu ainda fui ler um pouco sobre o tal procedimento "histerectomia" pronto...desatei a chorar outra vez, porque até então por mais preocupada e amedrontada que eu estivesse eu tinha também os preparativos do meu casamento e não quis ler tanto sobre isso, quando li que o procedimento consiste na retirada total ou parcial do útero, parcial seria a retirada do colo, o que dificultaria muito a possibilidade de uma gravidez normal e que até então nenhum médico tinha me explicado, mais uma vez ele estava lá meu marido, enviado por Deus pra minha vida, cada vez tenho mais certeza, enfim depois de chorar mais um pouco e ser consolada, chegou o tão temido dia 21, as 5:00 da manhã nós saímos para o hospital que nem sabíamos onde era, mas chegamos logo, fiz a internação e a recepcionista já logo avisou que por ser plano enfermaria meu marido não poderia ficar comigo, só ia me acompanhar e depois aguardaria na recepção, felizmente quando chegamos no quarto só tinha eu lá e ele acabou ficando quietinho, vieram uma ou duas enfermeiras me preparar pra cirurgia e as 8:30 mais ou menos vieram me buscar, cheguei na sala e uma das médicas me que atendeu no hospital da mulher estava me esperando para o procedimento, não falou nada, absolutamente nada, se resumiu a um bom dia, o anestesista já estava a póstos, me perguntou se ja tinha tomado a Raquidiana (raqui) alguma vez, eu disse que não, ele continuou dizendo que ia ficar imóvel da cintura pra baixo por umas 3 horas e só, aplicou a tal injeção com uma agulha enorme que me fez tremer de medo por dois segundos.
A médica (sinceramente não me lembro o nome dela...aff) começou a cirurgia sem falar nada, tudo dorou cerca de 30 minutos, ela terminou me deu tchau e saiu, depois disso nunca mais a vi.
A sala ficou com umas 2 ou 3 auxiliares que terminaram a arrumação e me trocaram de cama, nessa hora me lembro bem que pedi pra uma delas me mostrarem o que tinha sido tirado de mim (com muito medo de ver um quilo de qualquer coisa, que pudesse me impedir de ser mãe), ela me mostrou num vidrinho com um liquido transparente, dois pedacinhos bem pequenos acho que um centímetro cada, nessa hora respirei fundo e pensei, só isso, ainda bem, acho que não vai fazer falta.
Fiquei um tempo numa sala de recuperação de anestesia, tentei dormir um pouco mas não consegui, tinham outras mulheres lá, lembro de ter ouvido a enfermeira conversar com uma moça do meu lado, uma menininha de 16 anos que tinha ganhado bebê e também se recuperava, não parava de entrar e sair gente, devo ter ficado lá por uma hora mais ou menos.
Voltei pro quarto meio grogue, mas assim que passei pela porta vi meu marido com a minha aliança na mão e uma cara que parecia ser de alivio, falamos umas poucas palavras que eu não me lembro e eu voltei a tentar dormir, mas agora não conseguia por dois motivos, primeiro, eu sentia muita vontade de fazer xixi, tomei muito soro e me lembro de ter colocado a mão e sentir minha barriga rígida de tanta água querendo sair, segundo tinha outra moça recém operada com alguém da família dela que não parava de falar, isso começou a desesperar, eu estava com sono, com fome e morrendo de medo de fazer xixi na cama, mas aguentei firme.
Lá pelo meio dia, chegou uma enfermeira com almoço, na hora eu pensei, ja posso levantar??? apesar de não estar mais com as pernas adormecidas, todo mundo diz que com essa anestesia só se pode levantar depois de 12 horas, perguntei pra enfermeira se já poderia levantar, ela me disse: Olha moça não sei bem, mas se mandaram seu almoço acho que você pode sim, na hora eu estava tão doida pra ir ao banheiro que nem me liguei muito na enfermeira super-desinformada, levantei  e no mesmo momento senti uma fisgada nas costas, mas a vontade de fazer xixi era tanta que eu fui me arrastando até o banheiro, fiquei um tempão lá e depois que terminei voltei correndo pra cama, as costas doíam bastante.
Comi bem pouco e fiquei mais alerta, conversando com meu marido.
As horas demoraram um pouco a passar, lá pelas 18:30, veio a enfermeira chefe me dizer que a médica tinha deixado a minha alta e algumas orientações pós operatórias, me arrumei rapidinho mas sentindo muita dor nas costas, quase não conseguia andar, na hora pensei vou ficar firme se não vão querer me deixar aqui, fomos pro posto de enfermagem assinar minha saída, a enfermeira chefe me passou as orientações da médica, e eu vim pra casa.
Deitei e dormi o resto da tarde, no dia seguinte meu marido foi trabalhar, e lembro que eu já acordei com as costas doendo e a cabeça muito pesada, comi alguma coisa e a cabeça começou a piorar, na hora lembrei da enfermeira desinformada, achei que tinha mesmo levantado na hora errada, só que a dor só piorava e eu não conseguia mais nem levantar da cama direito, umas 15:00 quando meu marido chegou eu mal falava de tanta dor de cabeça, lá fomos nós pro pronto socorro, cheguei e fui atendida rapidinho, mas o médico de plantão nos disse que provavelmente se tratava de cefaleia pós raqui e que o melhor seria voltar ao hospital que tinha me operado, sai de lá doida de dor de cabeça e voltamos pro hospital, a médica que me atendeu não estava lá e mandaram chamar o anestesista de plantão, que demorou um pouco mais veio e me explicou o que acontece quanto se toma uma anestesia, lá vai: a agulha que é usada para aplicar o liquido anestésico é relativamente grossa e faz um furo na medula espinhal, por onde passa o fluido cerebral e não passa sangue, sendo assim não coagula, quando se levanta antes de período indicado esse fluido cerebral começa a gotejar pelo furo e faz com que o cérebro fique "solto" e qualquer movimento doa muitoooo, o tratamento era muito soro intravenoso e cafeina, nunca tomei tanta Neosaldina na minha vida, acabei ficando aquela noite toda lá, meu amado marido sempre do meu lado, dormiu todo torto em uma cadeira ao lado da minha cama, no dia seguinte a cabeça ainda doía, mas eu queria muito ir embora, alguém do hospital veio com café da manhã e eu me arrisquei a comer um mamão, não estava com fome, sentia a cabeça doer, e na hora que o mamão bateu no estomago eu sai correndo e vomitando muitooooo, pronto já comecei a chorar outra vez, achei que não iam me deixar ir pra casa.
Uns minutos depois veio uma outra anestesista falar comigo, tinha assumido o plantão e queria saber como eu estava, ela era japonesa e falava engrassado, rindo, sei lá.
Apesar de ter vomitado muito eu estava bem, e ela de mandou pra casa, acabei ficando 10 dias em repouso e da cirurgia mesmo não senti nadinha.
Como ja estava oficialmente casada eu pude entrar no plano de saúde do meu marido que é infinitamente melhor que o meu antigo, peguei o resultado da biopsia dos tecidos removidos e marquei consulta com um ótimo médico que atende na Paulista, levei os exames, ele me explicou muitas coisas, tirou minhas duvidas sobre a minha tão sonhada gravidez e disse que apesar de ele não fazer pré-natal, ele não via nada de errado na gente começar a tentar um bebê em três meses, assim que eu repetisse alguns exames.
Nessa época um amigo do meu marido, tinha sido pai e indicou a obstetra da esposa dele, disse maravilhas dela e lá fui eu marcar uma consulta com a Doutora Carolina.
No dia levei a pasta de exames antigos, contei toda a história e ela também não teve objeção ao inicio das tentativas, pediu alguns exames e uma ultrassom pra medir o colo do útero e garantir que eu não sofreria de incompetência cervical por conta da cirurgia, no mesmo dia eu coletei os exames de laboratório e fui fazer a ultra na clinica ao lado do consultório, estava super calma, afinal o pior já tinha passado, santa inocência, mal sabia que ia passar tanto nervoso...
No momento do exame, o medico começou a fazer Hummmmm, eu ja logo pensei, o que foi dessa vez??? foi quando ele me perguntou, você já fez esse exame antes??? Claro doutor eu acabei de fazer uma cirurgia, porque??? Nunca te falaram que você pode ter dois úteros??? O que??? Como???  Isso não existe doutor!!! Existe sim se chama útero Didelfo, não é tão raro e parece que é seu caso, imagina que eu já estava aos prantos, eu estava tão traumatizada que mesmo antes de saber se isso era bom ou ruim eu já estava chorando , o doutor me solicitou uma ressonância magnética pra confirmar, e me mandou de volta pra Dr Carolina, ela me explicou que se fosse verdade o que aconteceria: maior dificuldade para engravidar e maior chance de aborto espontâneo e/ou parto prematuro, pois o útero tem a metade da capacidade de um útero normal de se expandir para acomodar o bebê. Além do fato de poder engravidar nos dois úteros em momentos diferentes. Chororo desatado.....
Marquei e fui fazer a ressonância, o resultado veio: útero de formas e contornos normais e homogenios, lateralizado a esquerda da cavidade pélvica!!!!
O que isso quer dizer????
Que meu útero é normal, porém não esta localizado no centro da cavidade pélvica e sim um pouco a esquerda....agora eu brinco que meu útero esta onde esta o meu coração!!!!
Os outros exames estavam ok fomos liberados pela Dr Carolina, eu comecei as mudanças em mim, como eu era loira e não queria ficar com uma raiz enorme durante a gravidez resolvi escurecer o cabelos antes de começar oficialmente as tentativas, já sonhávamos com a chegada do nosso bebê, mas essa história fica pro próximo post!!

bjus!! Mãe da Manú.

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